Religião é Veneno
Entenda a verdadeira história por trás da narrativa que ajudou Paulo Freire a ganhar o título de patrono da educação brasileira
Autor: Volpiceli | Categoria: História, Sociedade, Comportamento e Filosofia | Visualizações: 1417 Comentários: 1
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Volpiceli
2024-Abril-25
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Trezentos de uma tacada só?

A revista O Cruzeiro, em sua edição 30 de 1963, conta que o presidente da República, João Goulart, deu a aula de encerramento do curso de Freire, a quadragésima hora-aula. “Trezentas pessoas inteiramente analfabetas aprenderam a ler e escrever em 40 horas de aula”, informou a revista, que curiosamente também alegou que o método de alfabetização preocupava “maus políticos e os comunistas”, apesar de Paulo Freire ser famoso por sua base marxista.

No mesmo ano, o New York Times noticiou o sucesso do programa de Freire abrindo uma reportagem com a história da mãe de seis filhos Maria Pequena de Souza, 32 anos, que verteu lágrimas ao conseguir escrever uma palavra. O jornal também destacou as meras 40 horas do curso, mas apontou que havia politização: “Enquanto aprendem a ler, os adultos ouvem que (...) ‘a reforma agrária é necessidade urgente’”. Outra aluna, a lavadeira Francisca de Andrade, teria escrito ao presidente que “não sou mais das massas, pertenço ao povo e posso defender meus direitos”, mencionando reforma agrária.

O jornal americano já desmente em 1963 a informação do Ministério da Educação: “150 adultos completaram o curso e 135 foram considerados alfabetizados com base em testes escritos e cartas escritas ao presidente Goulart. Os alunos também foram avaliados quanto à consciência política”.

Cícero Moraes, contudo, usa outra fonte: o livro “As Quarenta Horas de Angicos” (Cortez, 1996), de Carlos Augusto Lyra Martins, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte que coordenou os trabalhos pedagógicos em Angicos na época. Os dados fornecidos por Lyra mostram que a evasão estava alta no curso de Freire: uma semana e meia após o início, o número de presentes caiu pela metade, resultando em uma média de 115 alunos por dia. O número de monitores envolvidos, de 21, também parece ter caído para 14 nos diários de classe arquivados. É do livro o número 122, o total de alunos que fizeram a avaliação final.

Moraes não duvida que as aulas tenham dado uma injeção de ânimo para uma comunidade pobre e esquecida, mas questiona o método: “visto que a cada dia era ministrada apenas uma hora de aula e parte dela era tomada por debates, como os alunos teriam tempo e condições para aprender a ler e a escrever?” Ele faz uma comparação com o programa mais moderno do Instituto YDUQS, que “demanda 144 horas, ou seja, 3,6 vezes o período do projeto original de Freire”, habilitando os estudantes para usos simples da língua como uso de transporte público. A avaliação final em si teve problemas: os monitores rejeitaram os testes finais do Serviço de Extensão Cultural da Universidade do Recife e resolveram elaborar suas próprias avaliações. Foram duas provas, uma de alfabetização e outra de politização.

Um terço dos 122 não passou na prova de letramento. Mas o resultado da politização foi melhor, com 87% de aprovados. As duas notas então foram mescladas, fazendo com que a nota da politização puxasse para cima o resultado em alfabetização, o que o autor do artigo chama de “jeitinho brasileiro” para “aprovar um maior número de pessoas ao reduzir o peso da alfabetização... em um programa de alfabetização”.

Tinha como dar certo?

Cícero não está sozinho em seu ceticismo ao reavaliar a história de educador valente de Paulo Freire. “Ninguém cortava cana. Não se plantava cana em Angicos”, desmente o professor Ronai Pires da Rocha, doutor em filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, professor da Universidade Federal de Santa Maria e autor do livro “Quando ninguém educa: questionando Paulo Freire” (Editora Contexto, 2017).

Rocha conta que a cultura principal de Angicos era o algodão mocó, seguido por cabras, ovelhas, vacas e a fabricação de linha de costura. Ele cita como fonte o livro “40 Horas de Esperança: o método Paulo Freire” (Editora Ática, 1994), de Calazans Fernandes e Antonia Terra. A obra também afirma que os alunos do curso de Freire só começaram a tentar formar frases na 37ª hora das menos de 40 totais do curso. “Ao se aproximar do final do curso, os alunos começaram a dizer que não sabiam escrever ou que sentiam dificuldade de leitura, quando já haviam dominado as mesmas dificuldades em outras situações”, escreveram Fernandes e Terra. Os monitores interpretaram essas reclamações como uma forma de retardar o fim do curso para manter a relação afetiva que formaram com os mestres.

“As duas coisas eram verdadeiras, eu acho”, comenta Ronai Rocha. “Os alunos foram, a rigor, familiarizados com letras e palavras, aprenderam a assinar o nome e a ler coisas muito simples ligadas ao que havia sido trabalhado nas aulas”, resume o especialista, que já trabalhou com alfabetização de adultos.

“É muito difícil alfabetizar adultos e, a rigor, deveríamos fazer uma espécie de gradação nas habilidades que eles vão conquistando, sendo que o teste final ideal, de escrita de um bilhete, uma cartinha, com ortografia e sintaxe razoáveis, é bem demorado”, explica Rocha.

Concorda com Rocha a professora Simone Benedetti, autora do livro “A falácia socioconstrutivista” (CEDET, 2020), um apelo para uso de bases científicas para o letramento no Brasil. Ela imagina que é mais difícil alfabetizar adultos “dado o menor nível de plasticidade e especialmente se o adulto tiver problemas de processamento auditivo e fonológico”. Para ela, “45 dias parecem pouco” para a aquisição integral das competências de uma pessoa capaz de ler e escrever com fluência.

No resto do mundo, Freire bateu recordes com 35 títulos de doutor honoris causa e já foi citado mais de 550 mil vezes no Google Acadêmico — mais que Albert Einstein e Charles Darwin. Mas céticos começaram a aparecer. No livro “A marxificação da educação: o marxismo crítico de Paulo Freire e o roubo da educação” (New Discourses, 2022; trad. livre, sem edição no Brasil), o matemático e ativista americano James Lindsay faz duras críticas ao brasileiro. O autor pensa que Freire “revela o suficiente de seu caráter pelos nomes que invoca repetidamente: Karl Marx, G. W. F. Hegel, Vladimir Lênin, Mao Tse-tung, Fidel Castro e, com lugar de destaque, Che Guevara. Poucos teóricos da educação (pedagogos), se algum, são mencionados, citados como referência ou aplicados”.

https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/a-verdadeira-historia-do-milagre-de-paulo-freire/
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Fernando_Silva
2024-Abril-25
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Lembro que alguém comentou que o método até que é eficiente.
O problema é que é usado para enfiar ideologias na cabeça dos alunos.
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