Mas dai qual seria a solução para o problema?
Pelo que eu entendo qualquer grupo que detenha o monopólio da violência é um problema.
Antes apresentar uma solução para o problema é preciso defini-lo e entender quais são seus aspectos problemático. Deixa eu tentar dar um exemplo (um pouco tangencial a esse assunto) para clarificar o que eu quero dizer com isso:
Frequentemente ouvimos opiniões mais ou menos sofisticadas sobre assuntos como geopolítica ou relações internacionais que poderiam ser sumarizadas em lemas universais do tipo "guerra sempre é o problema, paz sempre é a solução". E embora essa não seja uma idéia má, em termos de estabelecer uma distinção verdadeira e fundamental entre duas situações idealizadas, ela não costuma ser muito útil se aplicada diretamente entender e resolver os problemas teóricos e práticos relacionados ao que de fato pode ser entendido como a causa e a natureza dos conflitos armados entre nações ou grupos beligerantes organizados. Se você simplesmente pensar em termos de "guerra é o problema, paz é a solução", você pode deduzir algo do tipo "apenas a irracionalidade das partes envolvidas pode ser a causa ou justificativa para a continuidade de conflitos armados" ou ainda que "a conduta mais racional para se manter a paz consiste em se desarmar e ser gentil com aqueles que ameaçam te hostilizar, e capitular imediatamente caso eles iniciem um ataque".
Ou seja, por mais que a idéia por trás de um slogan do tipo "guerra é o problema, paz é a solução" não seja ruim em si, ela não é útil enquanto axioma fundamental da análise científica do fenômeno da guerra no mundo real, muito menos adotada princípio estratégico ou tático para tomada de decisões diplomáticas e geopolíticas. O problema da guerra, nesse nível de análise, não é mais um aonde faz sentido decretar que a "paz é a solução". O problema da guerra aqui é o seguinte: como entender a guerra enquanto um fenômeno da realidade que parece ocorrer quando certas circunstâncias se apresentam? Em particular como explicar que ainda que de um modo geral se entendam as razões para se preferir soluções pacíficas para essas situações, nem sempre seja possível evitar a escalada de hostilidades?
A frase "a guerra é um problema, a paz é a solução" toma por ponto de vista o de uma pessoa típica que é afetada pela guerra, mas que não tem nenhuma influência nas dinâmicas que produziram a guerra. Sim, para ela, a guerra existir é uma circunstância menos agradável do que a paz existir. Mas se ela não tem qualquer agência relevante no processo do qual guerra e paz são possibilidades alternativas, o fato da guerra ser um problema do ponto de vista dela é quase que irrelevante. E para entender a guerra de uma forma mais realista, é importante entender e descrever os diferentes aspectos importantes que levam a sua ocorrência, em termos dos objetos e processos bem definidos e que fazem sentido dentro de um sistema geopolítico aonde guerras são fenômenos que se produzem, evitando pular para conclusões já decididas a priori, a partir de um ponto de vista ético particular.
Podemos tentar estabelecer agora uma analogia aqui com o "problema do Estado". Qual é o caráter problemático que estamos tentando dar para ele: (a) queremos entender causa e natureza dos fenômenos sociais que chamamos de Estado nos termos que fazem sentido entendê-los ou (b) queremos estipular que existência desse fenômeno é o problema em si, tomando um ponto de vista ético apriorista qualquer, e decretar que a solução é a sua abolição, sem esclarecer como ou por quem, nos moldes do slogan "guerra é o problema, paz é solução"?
No passado eu tinha uma atitude mais ideológica, do tipo (b), para estabelecer o problema. E ainda que isso sirva como ponto de partida para se pensar de um modo muito geral e abstrata sobre a coisa, raramente isso é o suficiente para entender algo que se aplique no mundo real, aonde o modo de pensar (a) impera. Mesmo que no fundo o seu ânimo seja o de contribuir par uma sociedade aonde o slogan (b) prevaleça, me parece que a maneira efetiva de se chegar nisso é entender o caráter real do processo que você quer abolir, de acordo com um modo de pensar do tipo (a).