Quando a Esquerda Transforma Vilões em Heróis (E se Sabota no Processo)
Autor: Percival | Categoria: História, Sociedade, Comportamento e Filosofia | Visualizações: 806 Comentários: 0
Percival
2025-Abril-19
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Uma das ironias mais deliciosas da cultura pop recente é observar como certos setores da esquerda têm um talento involuntário de transformar seus "vilões" em figuras icônicas, carismáticas e até inspiradoras. A intenção original é sempre a mesma: criticar, denunciar, expor. Mas o resultado? Acabam criando mitos poderosos, mais vivos e memoráveis do que qualquer mocinho de discurso ensaiado. Basta lembrar do Capitão Nascimento, personagem criado para denunciar os abusos da PM no Rio, mas que virou símbolo de resistência, ordem e “faca na caveira”. Ou do Coringa, cuja intenção era mostrar os efeitos colaterais do abandono social — e virou um porta-voz da revolta contra o sistema. Ou ainda o Tyler Durden, que deveria ser um alerta sobre masculinidade tóxica, mas hoje é o "guru" de meio fórum underground. E nem o mundo cor-de-rosa escapou: no filme da Barbie, quem se destaca com carisma e humor é justamente o Ken, transformado em vilão quase acidental — mas que acaba roubando a cena. Enquanto isso, as criações autorais e progressistas desses mesmos grupos parecem esquetes malfeitas de humor forçado: tentam ser relevantes, mas soam como uma paródia de si mesmas. Quando tentam problematizar HQs, mangás e filmes clássicos, o efeito costuma ser contrário: mais pessoas passam a consumir e admirar justamente aquilo que era alvo de crítica. Lembro de um blog antigo de um autor de esquerda que tentava "desconstruir" tudo: dizia que o Batman de Frank Miller era fascista, que Berserk era apologia ao estupro, que super-heróis no geral representavam autoritarismo. No fim das contas, a leitura era tão pessimista e exagerada que, em vez de afastar, me aproximava mais dessas obras. Talvez seja aí que reside a força involuntária desses críticos: por enxergarem tudo sob a ótica da opressão, acabam revelando aspectos da realidade que outras narrativas, mais conservadoras ou moralistas, preferem esconder. Mas ao tentar controlar a forma como as obras devem ser interpretadas, ignoram o princípio básico da arte: cada um enxerga com seus próprios olhos. E é aí que a mágica (ou o desastre) acontece. Porque no final, quem acaba vilanizado de verdade são personagens como o Rocha em Tropa de Elite, que manipula o sistema para se promover — um retrato perfeito de certos líderes que vendem discursos, mas atuam como qualquer político oportunista. E no entanto, quem leva a crítica moral pesada? Sempre o Nascimento. O vilão real é esquecido, e o herói trágico é o alvo. Resumo da ópera: a esquerda cria suas próprias armadilhas narrativas, e seus "vilões" acabam virando ícones cult seguidos por quem ela queria educar.