Por Maduro, Lula relativiza defesa da democraciaPresidente atrela mandato e, pior, o Brasil a ditadura sanguinária que deixa rastro de mortes, violações de direitos e miséria
Por Vera Magalhães 31/07/2024O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo/29/05/2023Parecia que Lula adotaria uma postura ligeiramente mais prudente em relação às eleições eivadas de evidências de fraude na Venezuela, mas o temor de que, uma vez encorajado a falar, o presidente brasileiro não conseguiria esconder o viés pró-Maduro se confirmou com as declarações dadas por ele em entrevista ontem.
Seria cômico, se não fosse lamentável e gravíssimo, que Lula decida culpar a imprensa brasileira (!) por, segundo ele, transformar na “Segunda Guerra Mundial” o que seria um processo “normal”.
Fica explícito que, quando não está em ambiente controlado, o presidente não tem nenhuma divergência em relação a seu partido, o PT, que prontamente reconheceu a vitória autoproclamada de Maduro, sem a apresentação dos boletins de urna ou de qualquer comprovação de que os números anunciados pelo cooptado Conselho Nacional Eleitoral (CNE) correspondem à realidade da população que compareceu em massa para votar.
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Ao derrapar feio mesmo no script de cautela ensaiada e tardia que o governo montou diante da pantomima chavista, Lula atrela seu mandato e, pior, o Brasil a uma ditadura sanguinária que deixa um rastro de mortes, violações de direitos e miséria na sua luta desesperada por manter o poder pelo poder, sem nenhum projeto visível para resgatar a Venezuela da crise em que ele próprio a mergulhou na sua escalada de terror.
O alinhamento incondicional a um regime que deixou de ter sequer uma plataforma social típica de governos socialistas, como Hugo Chávez e Maduro definem seu bolivarianismo militaresco, mostra quanto a ideologia turva a capacidade de discernimento de Lula e do PT, que preferem colher imenso desgaste doméstico e no front internacional a se dissociar de um tirano.
Assim, por obra e graça apenas do presidente e de sua sigla, sem que a oposição bolsonarista tenha precisado mover uma palha, Lula internaliza uma crise que de forma alguma deveria ser sua, menos ainda do Brasil diante de suas muitas carências urgentes nos campos social, econômico e ambiental.
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