Religião é Veneno
O argumento cosmológico.
Autor: El Cid | Categoria: Ateísmo e Agnosticismo | Visualizações: 258 Comentários: 6
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El Cid
2024-Fevereiro-28
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Se eu estou digitando este post para você ler, é porque os meus dedos estão se movendo sobre as teclas do computador; se os meus dedos estão se movendo, é porque os músculos e tendões da minha mão estão fazendo força; se os músculos e tendões estão fazendo força, é porque os nervos da minha mão estão transmitindo impulsos nervosos vindos do meu cérebro; se os nervos estão transmitindo impulsos nervosos, é porque os neurônios estão sendo disparados no meu cérebro; se os neurônios estão sendo disparados, é porque as moléculas dos neurônios estão se reorganizando; se as moléculas estão se reorganizando, é porque os átomos também estão se reorganizando; se os átomos estão se reorganizando, é porque forças eletromagnéticas estão atuando sobre eles; se forças eletromagnéticas estão atuando, é porque et cetera; e assim sucessivamente. O princípio por trás dessas constatações é óbvio: se algo muda de estado, é porque essa mudança está sendo causada por outro algo, que também está mudando de estado, simultaneamente.

Porém, essa cadeia de causalidade tem que parar em algum lugar, pois, caso contrário, aconteceria um regresso infinito e não haveria um ponto de partida para todas essas mudanças. Usando uma analogia: em um trem, um vagão puxa o outro, mas todos os vagões têm que ser puxados por um motor, pois você sabe que um vagão por si só não tem o poder de puxar nada; sem o motor, tudo que poderia existir seriam infinitos vagões parados. Logo, como princípio geral, pode-se afirmar que existe uma causa primeira para todas as mudanças no universo, que não é nem pode ser mudada por nenhuma outra causa (senão, o problema do regresso infinito continuaria; ou uma coisa "puxa", ou ela é "puxada", isto é, ou ela tem o poder de causar mudança, ou ela é sujeita a mudança).

Como essa causa não pode ser mudada, ela não pode ser constituída de matéria (pois matéria pode passar por mudanças físicas, químicas e nucleares) nem de energia (pois os vários tipos de energia podem ser transformados em outros tipos de energia e até em matéria); ela tem que ser, além de imutável, imaterial.

E essa causa tem que ser uma só também, pois, se fossem mais de uma, elas teriam que ser distinguíveis uma da outra; e se fossem distinguíveis uma da outra, uma teria um atributo que a outra não tem; e se uma não tivesse um atributo que a outra tem, não seria completa; e se não fosse completa, não seria imutável; e se não fosse imutável, o problema do regresso infinito continuaria.

(b) Se eu estou digitando este post para você ler, é porque eu tenho a capacidade de raciocinar; se eu tenho a capacidade de raciocinar, é porque eu tenho a capacidade de formar na minha mente conceitos (p. ex., “homem”, “mortal” e “Sócrates”), proposições (p. ex., “Homens são mortais” e “Sócrates é homem”) e inferências (p. ex., “Se homens são mortais e Sócrates é homem, então Sócrates é mortal”); se eu tenho a capacidade de formar essas abstrações na minha mente, é porque eu tenho um intelecto capaz de fazer afirmações sobre o mundo; se eu tenho um intelecto capaz de fazer afirmações sobre o mundo, é porque eu tenho uma alma.

Essa última conclusão parece descabida, mas não é. Considere a hipótese contrária: não existe alma; todos os meus pensamentos são apenas o produto de reações químicas acontecendo no meu cérebro (ou de algum outro fenômeno material). Se essa hipótese fosse verdadeira, então qualquer afirmação sobre o mundo que eu fizesse não seria jamais um juízo objetivo, isto é, não seria o resultado de eu exercer meu livre-arbítrio para analisar os fatos de forma independente e chegar a conclusões válidas; seria apenas o resultado de um determinado estado químico do meu cérebro, isto é, um juízo subjetivo, que seria válido apenas do ponto de vista do meu cérebro e, ainda assim, mudaria conforme as várias e variadas circunstâncias desse cérebro. Ou seja, se a química do meu cérebro mudar ou se tomarmos como referência outro cérebro, com uma química diferente, a afirmação sobre o mundo também mudará.

Essa hipótese é absurda porque, se afirmações sobre o mundo não podem ser juízos objetivos, então a afirmação sobre o mundo que reduz nossos pensamentos a meras reações químicas também não pode, e ocorre um paradoxo. Logo, nossos pensamentos não podem ser reduzidos a meras reações químicas. Logo, o intelecto não pode ser reduzido à matéria. Logo, a mente não pode ser reduzida ao cérebro. Logo, a alma existe.

(c) Para fazer uma fogueira, você precisa de fogo (ou, mais tecnicamente, de calor; ou, ainda mais tecnicamente, de energia); para fazer gelo, você precisa de água; para fazer um girassol, você precisa de uma semente de girassol; para fazer uma sopa vermelha, você precisa de um líquido vermelho, ou de um soluto vermelho, ou de duas substâncias que, reagindo uma com a outra, produzam um líquido ou soluto vermelho. Ou seja, para se produzir um determinado efeito, é preciso que esse efeito esteja contido na causa dele.

O corolário desse princípio é que a causa primeira de todas as mudanças do universo tem que conter todos os efeitos delas. Ou seja, a fogueira, o gelo, o girassol e a sopa vermelha, e qualquer outra coisa no universo, têm que necessariamente existir na causa primeira. Caso contrário, de onde eles viriam? Do nada?

(d) Porém, tem-se aí um paradoxo: o fogo, a água, o DNA do girassol e a cor vermelha, e qualquer outra coisa no universo (com exceção do intelecto), são coisas materiais, e a causa primeira é algo imaterial; sendo assim, como coisas materiais podem estar contidas em algo imaterial?

Uma possível solução para esse paradoxo é a seguinte: o nosso intelecto também é algo imaterial, e a fogueira, o gelo, o girassol e a sopa vermelha, e qualquer outra coisa no universo, podem existir nele como abstrações. Ou seja, nós pensamos neles, e eles existem na nossa mente. Logo, se a causa primeira é algo imaterial e, se coisas materiais devem necessariamente existir na causa primeira, então a causa primeira deve ter algo análogo ao intelecto humano. Ou seja, a causa primeira pensa na fogueira, no gelo, no girassol e na sopa vermelha, e eles então existem. Logo, a causa primeira é inteligente. (e não só inteligente, mas também incomensuravelmente inteligente, pois contém, em sua mente, todas as coisas — nos seus mais mínimos detalhes — que formam o universo)

(e) Tomás de Aquino chama essa causa primeira — imaterial, inteligente e outras coisas que eu não vou citar para não prolongar o post — de Deus.

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Apontem erros nesse raciocínio (extraído, em sua maior parte, dos livros "The last superstition" e "Five proofs of the existence of God", de Edward Feser). Há dias estou refletindo sobre isso e ainda não consegui articular uma crítica.
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Gorducho
2024-Fevereiro-28
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Sr. El CidHá dias estou refletindo sobre isso e ainda não consegui articular uma crítica.
aconteceria um regresso infinito e não haveria um ponto de partida para todas essas mudanças.
Estudando sequências & séries na Matemática acostumamo-nos ℅ fato que nem tudo precisa de "ponto de partida" (algumas séries são -♾️ + ...).
se algo muda de estado, é porque essa mudança está sendo causada por outro algo, que também está mudando de estado, simultaneamente.
ou uma coisa "puxa", ou ela é "puxada", isto é, ou ela tem o poder de causar mudança, ou ela é sujeita a mudança).
O puxador, "causador" – motor – também é sujeito a mudança pra poder efetivar a própria ação. Motores em ação vão mudando de estado na coordenada t.
Algo tem que "causar" e- fluirem pelo bobinado (elétricos); ou [...]
Não tem motor imutável e, por essa linha de raciocínio, mudanças têm causa então...
Refuta-se assim.

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Fernando_Silva
2024-Fevereiro-29
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Se tudo teve uma causa, Deus também tem que ter tido, numa regressão infinita.

Não se pode afirmar, arbitrariamente, a existência da tal Causa Primeira, que não teve causa. Ela não tem que existir. Seus defensores é que se agarram a isto porque senão seu argumento não funciona.

Um deus que sempre existiu é apenas um tipo diferente de regressão infinita.

A ideia pode até fazer sentido, mas, sem uma comprovação empírica, não passa de uma divagação intelectual. Apenas uma hipótese que não podemos descartar, mas também não podemos provar.
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Fernando_Silva
2024-Fevereiro-29
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Sobre as Provas Metafísicas da Existência de Deus

Publicado originalmente em 26 Mar 2011

Por Acauan


É recorrente em debates entre religiosos e ateus a citação por parte dos religiosos das chamadas provas metafísicas da existência de Deus, geralmente As Cinco Vias propostas por Sto. Tomás de Aquino, citação frequentemente acompanhada de um desafio à refutação ou alguma referência insultuosa à inteligência do interlocutor ateu por ousar não crer no que estaria tão definitivamente provado.

Também é recorrente em debates minimamente informados sobre a História das Idéias que o ateu cite as contestações à metafísica de Kant e Husserl, nominalmente ou não, recebendo as réplicas esperadas que por sua vez também podem ser postas em dúvida. Em seu status quaestionis o debate é inconclusivo e terminam as partes acreditando naquilo que optaram por acreditar.

Já nos debates de Internet, geralmente orientados pelo que responde a primeira página do Google sobre o tema em discussão, se nota que as citações disponíveis sobre as provas metafísicas são postas e rebatidas sem deixar claro se a lógica do debate é compreendida em seus princípios básicos.

O primeiro ponto que raramente vejo discutido nestes debates é o significado e abrangência do conceito de prova.
Provar uma afirmação é apresentar evidências e argumentos que demonstrem sua veracidade, com um grau de certeza suficiente para desacreditar os argumentos e evidências que propõem que a afirmação seja falsa.

Como uma prova é constituída de evidências e argumentos, a abrangência da prova é limitada à abrangência dos argumentos e evidências que a constituem.
Quanto mais abrangente é o que se intenciona provar, mais abrangentes devem ser as evidências e argumentos usados como prova, ou seja, a prova vale até onde sabemos válidos seus argumentos e evidências.

Assim, as únicas provas absolutas conhecidas são as matemáticas, uma realidade abstrata na qual a abrangência da prova contém o que se pretende provar sem incertezas ou possibilidades alternativas.

A metafísica por sua vez estuda a realidade concreta que percebemos visando uma compreensão de sua estrutura e funcionamento que nos permita tirar conclusões sobre aspectos desta realidade situados além de nossa percepção.

Obviamente, qualquer prova metafísica só é válida dentro da abrangência da metafísica, ou seja, até onde admitimos as premissas da metafísica como verdadeiras, sendo suas premissas essenciais tomadas da hipótese de que a realidade concreta é necessariamente coerente, isenta de absurdos e apreensível pela razão humana.

Na metafísica parte-se de um conhecimento e experiência finitos, tomando-se por verdadeiro que tal finito represente uma amostra significativa do total absoluto da realidade e, baseado em tal confiança, tira-se conclusões de abrangência infinita, como as provas da existência de Deus. Ou seja, a metafísica, tira conclusões sobre o todo a partir do que sabe sobre a parte.

Na matemática é perfeitamente correto tirar conclusões sobre o infinito a partir do finito. Não importa que a circunferência tenha infinitos pontos, bastam três pontos para definir exatamente todos os demais infinitos pontos constituintes.

A metafísica faz sentido para explicar uma realidade criada e mantida por uma racionalidade divina, o que torna esta realidade específica uma premissa metafísica e implica que conclusões metafísicas sobre a veracidade da ordem racional divina da realidade caem em petição de princípio.

É importante lembrar que nas Cinco Vias Sto. Tomás de Aquino não conclui diretamente pela existência de Deus e sim que a realidade observada necessita de certos elementos para sustentar sua coerência racional e associa estes elementos "ao que chamamos Deus", nas palavras do filósofo.

Pode-se dizer que as Cinco Vias não provam a existência de Deus e sim que apresentam a "hipótese Deus" como explicação racionalmente sustentável para a coerência do cosmo.

A "hipótese Deus" como apresentada pela metafísica não se configura como prova de existência por não eliminar outras hipóteses e por só ser válida dentro das premissas estritas de que a coerência cósmica tida como verdadeira pela metafísica seja um fato e não uma interpretação do observador humano.
Também não se sustenta como demonstração de veracidade da afirmação "Deus existe" e sim como solução teórica para o problema da racionalização da existência de Deus, pois demonstrar em tese que a existência de um suposto ser explicaria determinados fatos não implica que este ser de fato exista.

Esta questão não passou despercebida a Sto. Tomás de Aquino, que declarou explicitamente a superioridade do ontológico sobre o lógico ao criticar o argumento de Sto. Anselmo, que propunha provar a existência de Deus com um argumento que, em última instância, se revela apenas um jogo de palavras.

Provar entidades infinitas só é possível em uma realidade matemática ou similar à matemática, na qual as propriedades de uma fração finita são idênticas às propriedades do todo infinito.
Em qualquer outra realidade em que esta lei não seja válida, qualquer fração finita é insignificante diante do todo infinito e, portanto, nenhuma prova cujas evidências e argumentos estejam contidos nesta fração terão abrangência suficiente para demonstrar a veracidade do todo infinito que pretendem provar.

No mais, a razão mais elementar entende que o autoevidente dispensa prova.

Com o justo reconhecimento à sabedoria de Sto. Tomás de Aquino, todo o mais para além do autoevidente só encontra provas absolutas na Fé pessoal.
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Gorducho
2024-Fevereiro-29
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Sr. El Cid(c) Para fazer uma fogueira, você precisa de fogo (ou, mais tecnicamente, de calor; ou, ainda mais tecnicamente, de energia); para fazer gelo, você precisa de água; para fazer um girassol, você precisa de uma semente de girassol; para fazer uma sopa vermelha, você precisa de um líquido vermelho, ou de um soluto vermelho, ou de duas substâncias que, reagindo uma com a outra, produzam um líquido ou soluto vermelho. Ou seja, para se produzir um determinado efeito, é preciso que esse efeito esteja contido na causa dele.

O corolário desse princípio é que a causa primeira de todas as mudanças do universo tem que conter todos os efeitos delas. Ou seja, a fogueira, o gelo, o girassol e a sopa vermelha, e qualquer outra coisa no universo, têm que necessariamente existir na causa primeira. Caso contrário, de onde eles viriam? Do nada?

(d) Porém, tem-se aí um paradoxo: o fogo, a água, o DNA do girassol e a cor vermelha, e qualquer outra coisa no universo (com exceção do intelecto), são coisas materiais, e a causa primeira é algo imaterial; sendo assim, como coisas materiais podem estar contidas em algo imaterial?
A Crença dos religiosos abraâmicos é que essa Cause Première Criou sim do nada.
≠ Primum Movens do Filósofo que não Criou, só pôs em movimento o Universo.
Ou seja, a causa primeira pensa na fogueira, no gelo, no girassol e na sopa vermelha, e eles então existem. Logo, a causa primeira é inteligente. (e não só inteligente, mas também incomensuravelmente inteligente, pois contém, em sua mente, todas as coisas — nos seus mais mínimos detalhes — que formam o universo)
👍essencialmente essa é a Crença deles: Ele tem na cabeça – Universo das Ideias do Platão – e aí se bem Entender Materializa essas "Ideias". Análogo a se instanciar Classes na Informática. 
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ufka Cabecao
2024-Julho-19
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Se eu estou digitando este post para você ler, é porque os meus dedos estão se movendo sobre as teclas do computador; [...] e se não fosse imutável, o problema do regresso infinito continuaria.
Algumas idéias distintas estão misturadas aqui.

Uma coisa é o princípio de causalidade, i.e. a idéia de que fenômenos da realidade que percebemos estão associados em termos de um sistema dinâmico, uma sequência inexorável de estados que se transformam de forma bem definida (i.e. que não depende de escolhas arbitrárias de parâmetros representação), e que em particular conservam certas quantidades características.

Outra coisa é o reducionismo, i.e. a idéia de existem escalas características e mutuamente consistentes nas quais sistemas podem ser decompostos em subsistemas, e aonde regras de transformação aparentes numa escala são propriedades emergentes de regras em outra escala (e.g. dedos apertando teclas e átomos interagindo de acordo com forças eletromagnéticas).

Podemos explicar o "porque" de um fenômeno nesses dois contextos - i.e. mudando de escala como manifestação aparente de fenômenos simultâneos de subsistemas componentes, ou como configuração de um sistema, i.e. dentro de uma sequência de transformações de estados que apresenta padrão consistente.

O que parece ser mais adequado aqui para o seu argumento é o princípio de causalidade que em particular nos permite extrapolar estados de uma sequência de eventos, tanto na direção do passado (i.e. das causas), quanto na direção do futuro (i.e. das consequências), relativo a um determinado conjunto de fatos observados e representados adequadamente.


O argumento então afirma que "uma cadeia de causalidade precisa parar em algum lugar". Isso pode parecer intuitivo por ser uma necessidade prática para determinarmos condições tratáveis para problemas de causalidade, mas é perfeitamente possível que o problema global de causalidade não seja tratável, simplesmente porque a cadeia global de causalidade não é finita. Nem toda sequência abstrata ordenada tem origem definida, ela pode se estender para os dois lados indefinidamente. O princípio da causalidade apenas impõe uma ordem definida para as coisas. As analogias com vagões de trem e outras coisas que tem um aspecto sequencial não são adequadas aqui. Trens são objetos finitos, mas a eternidade dos acontecimentos da realidade não precisa ser, e o princípio de causalidade por si só não impõe que ela seja. Você precisa impor outra coisa, um princípio adicional, de originalidade ou finitude do passado para isso. Mas isso é uma petição de princípio.

Assumindo que esse princípio de finitude do passado seja imposto, o seu argumento é o de que esse acontecimento original no tempo não é um estado como outro qualquer, por ser o primeiro da sequência, e portanto necessariamente "imutável" ou "completo". A lógica aqui parece ser a de que esse evento é especial, porque se não fosse, ele poderia ser extrapolado para trás, e se isso fosse possível, escolher esse evento como a origem da cadeia seria mais arbitrário do que se isso fosse impossível - i.e. esse evento precisa ser de uma natureza particular que torne a extrapolação de causalidade viável apenas na direção do futuro. Como estados representados por distribuições espaciais de energia e momento permitem a extrapolação nos dois sentidos, ele precisa ser de uma natureza diferente.

Em cosmologia alguns falam que isso é necessário devido a segunda lei da termodinâmica. Dado que a entropia aumenta indo para frente, ela reduz indo para trás. E dado que ela é positiva por constraução, você acaba tendo que parar em algum lugar (favor ignorar os acochambramentos). Stephen Hawking e Roger Penrose ficaram famosos por teoremas que mostram que dadas essas condições uma origem definida para o tempo precisa existir, em um estado de singularidade, i.e. um estado de densidade infinita de energia e pressão. Existem dois casos, o de singularidade no passado (a.k.a. Big bang) e de singularidade no futuro (a.k.a. o centro de massa de um buraco negro).

Meu problema com esse argumento é que entropia é sempre definida em termos de duas escalas em que coisas podem ser medidas, macro-estados (e.g. estatísticas tipo temperatura, e pressão) e micro-estados (e.g. a distribuição das partículas no espaço), e não me parece claro que essas escalas canônicas podem ser estendidas para trás ou para frente indefinidamente e de forma consistente. Mas fundamentalmente ele parece ser uma versão moderna e mais sofisticada do argumento Aristotélico e Tomista.
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Aleluion
2024-Julho-26
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É muita assunção ad hoc.
Tudo que é observável é fruto de uma causa ao mesmo tempo em que é esta, um efeito. 

Nada que há é uma causa sem efeito nem efeito sem causa. Dado que nada absolutamente é indício para uma causa primeira, então qualquer assunção que pressuponha uma causa primeira é absolutamente ad hoc.
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