Por Acauan em 14 Abr 2009, 14:10
As agremiações religiosas que adotam o fundamentalismo bíblico costumam defender as seguintes premissas:
1. Toda a Bíblia foi inspirada por Deus
2. A Bíblia é isenta de erros em tudo que afirma;
3. A Bíblia contém toda informação necessária para a vida do crente;
4. Os crentes devem ter a Bíblia como sua única regra de fé e prática;
5. A Bíblia deve ser interpretada literalmente, sempre que possível.
Uma primeira contradição vem do conflito entre a quinta e a terceira premissa.
A Bíblia não descreve um método pelo qual possa ser interpretada.
Admitido a interpretação como necessária, dado que mesmo os fundamentalistas reconhecem que não é possível entender literalmente determinadas passagens, então temos uma informação necessária à vida do crente que não consta da Bíblia.
Outro conflito se dá entre a primeira premissa, de que toda a Bíblia foi inspirada por Deus, com a terceira, uma vez que não constam da Bíblia uma relação de quais seriam os livros inspirados ou um método para diferenciar um livro divinamente inspirado de outro que não o é.
O Cânone bíblico foi definido segundo metodologias humanas, não divinamente inspiradas e, portanto, passíveis de erro.
Assim, não apenas falta à Bíblia informação que defina a si própria, contradizendo a premissa terceira, da suficiência, como não se pode aferir a inspiração divina de livros selecionados e interpretados por metodologias humanas falíveis.
No caso da quarta premissa temos uma autocontradição, uma vez que se os crentes devem ter a Bíblia como sua única regra de fé e prática, esta regra deveria constar da Bíblia e não consta.
Um versículo frequentemente citado por fundamentalistas como se fosse a tal regra é II Timóteo 3: 16:
Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça;
Fica claro que tal citação não atende ao objetivo pretendido, dada a óbvia diferença entre declarar determinado texto inspirado como proveitoso e dizer que o mesmo texto deve ser única regra de fé e prática.
A quarta premissa também gera uma contradição teológica, uma vez que o fundamento do cristianismo é a vida de Jesus de Nazaré, logo, tudo que diga respeito àquela vida fundamenta o cristianismo – necessariamente –, esteja relatado na Bíblia ou não. Na hierarquia teológica cristã é a vida do Cristo que dá autoridade aos Evangelhos e não o contrário.
Em qualquer situação, a história de vida do biografado define a biografia e não o inverso.
Por fim, a segunda premissa, que declara a inerrância bíblica, confronta a terceira e quarta, dado que em nenhum trecho a Bíblia se declara isenta de erros em tudo que afirma.
É comum fundamentalistas defenderem que inspirado implica em inerrante, mas esta é uma interpretação e não uma citação bíblica.
AcauanPor Acauan em 14 Abr 2009, 14:10Outro conflito se dá entre a primeira premissa, de que toda a Bíblia foi inspirada por Deus, com a terceira, uma vez que não constam da Bíblia uma relação de quais seriam os livros inspirados ou um método para diferenciar um livro divinamente inspirado de outro que não o é.O Cânone bíblico foi definido segundo metodologias humanas, não divinamente inspiradas e, portanto, passíveis de erro.Assim, não apenas falta à Bíblia informação que defina a si própria, contradizendo a premissa terceira, da suficiência, como não se pode aferir a inspiração divina de livros selecionados e interpretados por metodologias humanas falíveis.
Segundo metodologias humanas que levaram, não apenas à definição do cânon, mas também a dois ou mais cânones diferentes.
Para não falar nas dezenas de milhares de seitas resultantes de outras tantas interpretações divergentes dos textos que, vindos de algum deus e determinantes para nossa salvação, deveriam ser claríssimos e à prova de interpretações incorretas.
E para não falar das contradições, muitas óbvias e inexplicáveis a não ser com um festival de ad hoc e acrobacias mentais.
Fernando_SilvaAcauan escreveu:Por Acauan em 14 Abr 2009, 14:10Outro conflito se dá entre a primeira premissa, de que toda a Bíblia foi inspirada por Deus, com a terceira, uma vez que não constam da Bíblia uma relação de quais seriam os livros inspirados ou um método para diferenciar um livro divinamente inspirado de outro que não o é.O Cânone bíblico foi definido segundo metodologias humanas, não divinamente inspiradas e, portanto, passíveis de erro.Assim, não apenas falta à Bíblia informação que defina a si própria, contradizendo a premissa terceira, da suficiência, como não se pode aferir a inspiração divina de livros selecionados e interpretados por metodologias humanas falíveis.Segundo metodologias humanas que levaram, não apenas à definição do cânon, mas também a dois ou mais cânones diferentes.Para não falar nas dezenas de milhares de seitas resultantes de outras tantas interpretações divergentes dos textos que, vindos de algum deus e determinantes para nossa salvação, deveriam ser claríssimos e à prova de interpretações incorretas.E para não falar das contradições, muitas óbvias e inexplicáveis a não ser com um festival de ad hoc e acrobacias mentais.
Para mim, o único problema está no fato de que a Bíblia foi inspirada por Deus, mas escrita por mãos humanas, com muito daquilo que a natureza humana tem de ruim.
Não lembro quem é o autor:
"Há milhares de anos, as lendas, mentiras, besteiras, mitos e costumes primitivos de uma pequena tribo de nômades semi-selvagens foram reunidos e escritos em pergaminhos. Ao longo dos séculos estes textos foram modificados, mutilados, truncados, floreados e divididos em pequenos pedaços que foram então embaralhados várias vezes. Em seguida, este material foi mal traduzido para várias línguas e vários povos o adotaram como a expressão da verdade, a palavra de Deus definitiva e irretocável.
Talvez os judeus não devam ser julgados segundo critérios modernos pelas atrocidades
que a Bíblia descreve em Josué, Samuel e outros. Por outro lado, por que aceitar como
verdadeiras as palavras escritas por uma tribo de bárbaros primitivos sobre o que
lhes teria dito seu deus? Como saber se eles não entenderam errado ou adaptaram a
mensagem à sua realidade e conveniência? Se eles afirmam que o próprio Yaveh
ordenou que cometessem tantas atrocidades (ou que as cometeu ele mesmo), ou nada
do que dizem sobre seu deus é confiável ou, se for verdade, seu deus é um monstro
e não deveria ser venerado nem obedecido. Se Deus existe, deveria ofender-se com a
imagem que a Bíblia faz dele.
Algumas coisas não podem ser tomadas fora de contexto. Por exemplo: é normal que
índios vivam nus em suas aldeias no meio da floresta, mesmo que não possamos fazer
o mesmo numa cidade grande. Por outro lado, para que contexto podemos apelar que
justifique o comportamento de um pai que estupra a filha de 8 anos? Que valor podem
ter as palavras de um homem assim? Da mesma forma, que critérios temos para filtrar
ou decodificar a verdadeira mensagem de Deus à humanidade contida nas palavras
de gente que extermina povos inteiros, incluindo os animais, rasga a barriga das
gestantes para arrancar os fetos, poupando apenas as virgens, para estuprá-las, e diz
que seu deus o ordenou?
Tudo o que temos é uma colcha de retalhos escrita por autointitulados profetas
ou mestres, sobre os quais pouco ou nada sabemos, cheia de enigmas, absurdos
e contradições. Tentar criar "mensagens" a partir da Bíblia significa apenas inventar
uma religião segundo critérios pessoais e interpretações sem base lógica. Não é o
desejo dos crentes de que haja uma "mensagem" e um "contexto" que vai fazer com
que existam.
Alguns crentes criticam os que "só abrem a Bíblia para procurar defeitos, em vez de
olhar para o que há de bom". No caso do pai citado acima, talvez devamos nos
concentrar no fato de que é um cidadão respeitável, que faz caridade e vai à igreja
todos os domingos, e não dar tanta importância a pequenos detalhes de sua vida
pessoal.
Se a Bíblia e a Igreja obviamente se enganaram sobre nossas origens, como podemos acreditar no que
nos dizem sobre nosso destino?
Fernando_SilvaPara não falar nas dezenas de milhares de seitas resultantes de outras tantas interpretações divergentes dos textos que, vindos de algum deus e determinantes para nossa salvação, deveriam ser claríssimos e à prova de interpretações incorretas.
Mas ainda que os textos fossem claros, sempre haveria seitas. As seitas (e isso vale não apenas para a religião, mas para movimentos políticos, crenças de qualquer espécie, e etc...) surgem também de egos de pessoas que querem ter a primazia da interpretação, ou interpretações equivocadas de textos, diferenças culturais que podem influir na interpretação. Por isso que a democracia é importante. Serve para que diferenças religiosas e políticas possam conviver.