A teoria do trabalho diz que o valor ou o preço de tudo, como seu apartamento, seu carro ou seu sorvete, consiste no trabalho humano que foi aplicado nele um dia. Nada mais. A terra ou o capital usados para fazer as coisas não são valores reais. Só os esforços praticados pelas pessoas importam.
Marx não era um idiota, e mesmo que sua teoria em última análise esteja errada, ela não é obviamente absurda - ela faz algum sentido, e não é tão fácil de refutar.
O conceito de valor trabalho em O Capital é mais sofisticado (e mais vago, mal definido) do que isso que você está dizendo. Ele usa um artifício aqui que se chama "quantidade social de trabalho necessário" para determinar esse valor. Então não é o quanto trabalho um indivíduo ou grupo levou para produzir uma mercadoria específica - é quanto trabalho, na média, uma mercadoria daquela qualidade demandaria, em condições pré-determinadas e dadas de competência, experiência, conhecimento tecnológico, disponibilidade de insumos e bens de capital, etc.
Ou seja, grosso modo, se tudo mais for assumido como igual, as diferenças de valor agregado entre mercadorias vai ser a quantidade total mão de obra e de tempo de necessário para produzir cada uma delas.
Isso é uma falácia também, mas é mais sutil, porque ainda que a correlação de fato exista, a direção de causalidade não é essa.
O capital humano (assim como outros fatores de capital) é alocado de forma decentralizada pelo mercado, através do mecanismos de preços, i.e. por taxas de troca praticadas por consumidores e capitalistas para os vários produtos e insumos, governadas por uma dinâmica geral de oferta e demanda por esses fatores e pelos bens alternativos que podem ser produzidos pelas várias combinações possíveis desses fatores.
Quando o capital humano (assim como outros tipos de capital) se encontra alocado de forma aproximadamente eficiente, você vai ter algo que aproxima a situação descrita por Marx, i.e. coisas que demandam mais mão de obra tendo um custo de produção e valor comercial maior do que coisas que demandam menos mão de obra. Mas isso é uma conseqüência da possibilidade de mover capital e trabalhadores para lá ou para cá - quando a demanda por alguma coisa é alta e o preço sobe, o lucro aumenta, e fatores de capital (incluindo mão de obra) são deslocados para aquele setor, por capitalistas buscando lucro. Da mesma forma, se bens de capital puderem ser empregados para reduzir a demanda por trabalho (facilitando ou automatizando processos de produção), reduzindo o custo de produção por trabalhador, a quantidade ofertada daquela mercadoria aumenta, e o seu valor de mercado reduz, de forma correspondente, dada a utilidade marginal decrescente.
O principal erro do Marxismo clássico foi o de trivializar o processo de formação de preços, i.e. do cálculo coletivo que o mercado faz da oferta e demanda marginal por fatores de produção, bens e serviços, dadas as circunstâncias presentes e/ou antecipáveis. Para Marx, essas relações poderiam ser inferidas a priori de forma mais ou menos óbvia, a partir de uma análise científica das necessidades fundamentais de cada indivíduo. Na realidade isso não é nem um pouco simples de se determinar, tanto para um indivíduo, quanto para a sociedade como um todo, quanto para a sociedade ao longo do tempo vis-a-vis a realidade fundamentalmente dinâmica e estocástica de variáveis importantes para determinar essas necessidades como a qualidade, quantidade, e distribuição de produtos, insumos, bens de capital, população e conhecimento geral e específico.
Esse mecanismo de formação de preços por meio de utilidade e custo marginal foi corretamente descrito pela primeira vez se eu não me engano por Carl Menger e refinado por Eugene von Bohm Bawerk - que em particular usou esse conceito para refutar a teoria de Marx em Capital I. Mas nessa época tanto Marx, quanto Menger e Bohm Bawerk eram só acadêmicos meio obscuros falando para uma audiência bem reduzida de outros intelectuais.