Percival
Depois de ver o que acontece em nossa sociedade e mesmo dentro das religiões esse argumento me parece ter sentido: o conceito de Deus e Religião é humano, tem seus erros porque foram concebido por seres humanos. Mas mesmo desse arcabouço ele contem uma verdade. E que verdade seria essa: a verdade da experiência. (Sendo é que isso não é só característica das Religiões, os Mitos também carregam esse conceito da experiência).
O Conceito de Deus inevitavelmente surge da constatação do nexo da realidade, no princípio de modo intuitivo e mitológico, depois filosófico-teológico. Religiões estruturadas desenvolvem doutrinas que conciliam estes quatro elementos.
Entretanto, se o nexo da realidade remete ao conceito de Deus, este conceito é vago demais para conhecermos sua essência e atributos.
Algo como uma formiga que subisse pelo dedão de Sócrates e que podia perceber que estava subindo no dedão de Sócrates, porém dificilmente entenderia que estava subindo no dedão de um filósofo.
A resposta religiosa para este impasse que determinaria o agnosticismo como resultado final da conceituação de Deus é a revelação.
Dentro da realidade humana é impossível acessar o infinito metafísico, mas o infinito metafísico, se quiser, pode se apresentar ao humano.
Do tipo, Sócrates pega delicadamente a formiga e mostra a ela que seu dedão é parte de um ser maior.
O problema para quem quer conhecer a verdade deste assunto é, por que acreditar que alguém de fato recebeu uma revelação?
Qualquer um que se diga profeta pode ser apenas um maluco ou mentiroso.
Argumentos religiosos não encerram a discussão, como alegar que estes profetas operavam milagres que provam a veracidade de sua inspiração.
Oras, o que nunca faltou no mundo, no passado e no presente foi gente dizendo fazer milagre e outras gentes acreditando, mas, mesmo que um feito milagroso fosse comprovado de modo incontestável, poderia ser algo como a formiga entre os dedos de Sócrates, por mais milagroso que pudesse parecer à formiga ser tomada por aquele poder que a ela aparenta infinito, isto não implicaria que Sócrates fosse Deus.
Seja qual for o tamanho do milagre, nós os mediremos pela régua humana e sempre ficará a dúvida se o milagre é muito grande ou a régua muito pequena.
Assim, sobra a possibilidade de Deus se apresentar pessoalmente a você, que vai ter que decidir se está vivendo uma experiência transcedental ou se ficou maluco.
Deste modo, não há como se entender Deus pela racionalidade, por isto a religião criou o conceito de Fé, que a maioria dos religiosos não sabe o que é, achando que seja uma forma profunda, certa inabalável de crença.
Não é.
Crença é quando você acha que algo é verdade, o que não quer dizer absolutamente nada.
Fé, no sentido religioso, é quando a Verdade se manifesta em você.
Algo como, por mais impressionante que Sócrates parecesse para a formiga, dificilmente impressionaria assim o vizinho dele.
Agora se após conhecer Sócrates a formiga passasse a entender de filosofia, aí o vizinho teria dificuldades em menosprezar o ocorrido.
Seria mais ou menos isto, a Fé religiosa não seria uma verdade que se apresenta de fora, mas que se manifesta por dentro e eleva quem a recebe à altura da compreensão de Deus.
O problema é que, de novo, quem acredita que vivencia isto pode apenas estar errado, enganado ou maluco.