A Ascensão de uma Farsa
Laísa Peixoto, uma jovem de 22 anos nascida em Contagem (MG), ganhou notoriedade nacional ao afirmar que seria a primeira brasileira a viajar ao espaço. Seu currículo impressionava: mestrado em Columbia, passagens pela NASA, participação em descobertas científicas e liderança em projetos espaciais. Chegou a se autoproclamar "astronauta da NASA" e foi promovida como orgulho nacional, especialmente após ser “selecionada” para uma missão da obscura empresa Titan Space, prevista para 2029.
Rapidamente, seu nome foi exaltado por grandes portais de notícias e pela própria Forbes, onde foi capa e integrante da lista “Under 30”. Nas redes sociais, ganhou milhares de seguidores e passou a ser convidada para palestras, eventos e campanhas publicitárias. Era, à primeira vista, uma história inspiradora. Mas era tudo mentira.
A Investigação do Space Orbit
O canal Space Orbit decidiu checar as alegações de Laísa — e o que descobriu foi estarrecedor. Em sua apuração, revelou que:
- A NASA jamais teve qualquer vínculo com Laísa, seja como funcionária, pesquisadora ou astronauta.
- A UFMG confirmou que ela foi jubilada e não concluiu o curso de Física.
- A Universidade de Columbia, Harvard e outras instituições também negaram qualquer ligação.
- A empresa Titan Space era uma fachada, com um site amador, endereço genérico em Orlando e proposta irreal de enviar 330 pessoas ao espaço com uma tecnologia inexistente.
- O suposto “treinamento de astronauta” de Laísa era, na verdade, um Space Camp recreativo de seis dias no Alabama — um programa pago, acessível a qualquer jovem entre 15 e 18 anos.
A Repetição das Mentiras
Mesmo com todas as inconsistências sendo expostas, Laísa continuou a propagar sua falsa narrativa:
- Gravou vídeos para colégios particulares e para eventos como a CCXP, dizendo liderar projetos na NASA.
- Disse em entrevistas que era responsável por desenvolver tecnologias para as missões Artemis da NASA.
- Alegou liderar equipes científicas, ser piloto de aeronave e estar desenvolvendo projetos para exploração lunar e do planeta Enceladus.
Porém:
- Ela não possui nenhuma licença de piloto, nem no Brasil, nem nos EUA.
- Não há qualquer artigo científico em seu nome sobre matéria escura ou ondas gravitacionais.
- O suposto projeto “Aquam” também carece de qualquer comprovação técnica ou registro oficial.
A Imprensa e o Efeito Dominó
A mídia tradicional brasileira foi severamente criticada por não fazer o básico:
verificar informações antes de divulgá-las. Portais como G1 publicaram matérias exaltando Laísa sem checar as alegações. A Forbes, mesmo após a denúncia,
mantém seu nome na lista Under 30, ainda que com observações posteriores sobre as polêmicas.
É importante destacar que
Laísa não foi desmascarada pela grande imprensa, mas por um pequeno canal de divulgação científica, o Space Orbit, que realizou o trabalho jornalístico que tantos veículos ignoraram.
O Asteroide, a Fama e os Fatos
Um dos trunfos divulgados por Laísa foi a “descoberta” de um asteroide que teria levado seu nome. Embora ela realmente tenha participado de uma iniciativa colaborativa cidadã para análise de imagens astronômicas, essa atividade é aberta ao público e
não equivale a uma descoberta científica tradicional — o que novamente foi utilizado como ferramenta para autopromoção.
Além disso, relatos indicam que ela recebeu cachês altos para campanhas publicitárias em escolas particulares, onde gravava vídeos usando roupas que sugeriam ligação oficial com a NASA.
O Desfecho
Após a repercussão da investigação, Laísa
apagou seu perfil no LinkedIn e disse estar sendo “atacada injustamente”. Em entrevista ao site do Léo Dias e ao programa Domingo Espetacular, tentou amenizar a situação, dizendo que nunca afirmou ter sido funcionária da NASA. Contudo, há
diversos registros em vídeo em que ela se apresenta como astronauta da agência, líder de equipe e participante ativa das missões Artemis.
Até o momento, Laísa não apresentou provas concretas que sustentem suas alegações. A comunidade científica, professores, jornalistas e ex-colegas se manifestaram, reforçando que ela
fabricou um currículo e
usou o imaginário do espaço como ferramenta de autopromoção e lucro.
Considerações Finais
O caso de Laísa Peixoto é um alerta sobre os perigos das
narrativas construídas sem verificação, e de como a
vaidade e a busca por reconhecimento podem se tornar armas para enganar milhares de pessoas. Também reforça a importância do jornalismo investigativo, da checagem de fatos e da responsabilidade ética de quem atua com ciência e educação.
No fim das contas, Laisa virou símbolo — não da ciência brasileira — mas de como uma mentira contada muitas vezes pode virar “verdade”… até ser desmascarada.